terça-feira, setembro 18, 2007
Destinos Cruzados
um dia eu tive uma calopsita, era do meu irmão na verdade, fiquei puto da cara no dia em que ele comprou... não me conformava nem um pouco com a idéia de um animal voador, preso em uma gaiola de uns 20 cms cúbicos... um absurdo!
e ainda por cima o doente maltratava o bicho,
vê se pode?
O bicho bicava ele e ele que ficava irritado, e dava uns peteleco nela...
resultado... ela não gostava dele né... e ele logo desprendeu-se dela..
ele é um "tirano" nato mesmo... mas isso é outra história...
Bom um dia ele casou e foi embora de casa, e o bicho ficou na minha.
Logo me simpatizei com ela, ia fumar na sacada e ficava viajando na dela depois...
Ela foi se acostumando comigo, e eu até ensinei uma musica em assobio pra ela...
Ficamos amigos, e eu tocava a musica do pica-pau na viola pra ela..
E ela curtia, passou a ser feliz e cantar ao amanhecer...
Calopsita é um nome muito complicado... batizei ela de Proparóxitona.
Ao anoitecer esfriava, então eu trazia ela pro quarto, quando apagava e acendia a luz ela fazia um barulinho.. hahaha
um dia resolvi tirar ela da gaiola... ela ficou apavorada, e eu não conseguia por ela de volta pra dentro.. ela tentou voar toda desengonçada, e se debateu dentro do quarto.
até eu me assustei...
mas no fim coloquei ela de volta, e passou.. o coraçãozinho dela batia acelerado..
e eu percebi nos olhos dela, que ela tinha gostado da aventura...
ela tava na adrenalina... eu via que parecia que ela tava pensando no que tinha acabado de acontecer...
com o tempo ela começou a curtir sair, eu levava ela pra passear, dentro do quarto é claro...
vi o quanto ela era inteligente, parecia um cachorro.. e aquilo foi mudando completamente meu conceito aos pássaros... e também à todos os animais... porque logo percebi que não sou mais inteligente que nenhum deles... alias.. sou o mais burro...
naquela época até parei de comer carne...
um dia coloquei ela em semi-liberdade... abri a metade da gaiola dela com um alicate, assim ela podia sair e voltar na hora que bem entendesse...
ela ficou super feliz, andava solta dentro de casa, e ao anoitecer voltava pra gaiola dela..
ah, e pra comer também...
As vezes eu via o quanto ela olhava pra janela, com uma cara de desafio...
Ela se sentia um animal de verdade ao olhar pra rua e perceber o infinito do universo...
E eu por outro lado me sentia super feliz comigo mesmo por poder dar pra ela esse conhecimento.
Certo dia voltei da aula, e a empregada tinha aberto todas as janelas da casa, tava um dia lindo... ensolarado, o sol brilhava fortíssimo refletindo nos cumes dos prédios.. o céu azul, limpinho.. com poucas nuvens, bem brancas.. o ar fresco do outono gaúcho... era meio dia.. um horário em que todos comem, e um silêncio tranquilizante se espalhava pela cidade... vi que ela não tava na gaiola, e logo já pressenti...procurei ela por tudo e ela não tava... vi que ela já tinha partido, as janelas estavam muito tentadoras mesmo...
no inicio fiquei preocupado com ela... será que ela já estava preparada?
fui um pouco egoísta, e fiquei um pouco triste também, porque vi que ia sentira saudades dela...
derrubei umas duas lágrimas... mas logo abafei.
ela havia escolhido o caminho dela... seguiu o caminho do seu coração.
na época eu me senti da forma errada... achava que ela pudesse morrer, e me senti irresponsável,
achava que ela nunca me perdoaria... eu era um tolo.
Hoje eu vejo o quanto aprendi com ela, e sei que ela esta agradecida por mim...
independente do rumo que levou o destino dela, ao atravessar aquela janela, ela era muito sábia....
e sabia bem o que estava fazendo...
eu cruzei o destino dela pra dar pra ela a liberdade de um guerreiro...
e ela entrou no meu, para me ajudar a compreender melhor a vida, e perceber o quanto a vida me ensina no dia a dia, e quem sabe um dia eu possa até estar preparado para me sentir um animal de verdade e perceber o infinito do universo...
atingir a liberdade...
assim que nem ela.
Ela me deu um presente, e eu estou compartilhando ele com os que queiram...
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